Cristianismo e Catolicismo

 

Cristianismo e catolicismo são a mesma coisa?

Não. O termo cristianismo é, a princípio, usado para designar a religião monoteísta centrada na figura de Jesus Cristo, fundada a partir de seus ensinamentos e de sua vida, morte e ressurreição. No entanto, a palavra hoje se refere a toda e qualquer religião ou doutrina baseada na crença de que o profeta é o messias anunciado na Bíblia Hebraica (do judaísmo), que viria à Terra salvar a humanidade de seus pecados e lhe dar a vida eterna. Nos primeiros anos do cristianismo, a igreja era uma só. A partir do Cisma do Oriente (século XI), um grupo dissidente fundou a Igreja Ortodoxa de Constantinopla, e a igreja cristã passou a se chamar Igreja Católica Apostólica Romana — de onde deriva o termo catolicismo. Com o passar do tempo, outras grupos se desgarraram da Igreja de Roma e fundaram novas religiões cristãs, como é o caso da Igreja Luterana, a primeira protestante.

Quem escreveu a Bíblia?

A Bíblia Sagrada do cristianismo é um compêndio de diversos textos, escritos em diferentes épocas e locais, por pessoas distintas. Não pode, portanto, ser atribuída a um único autor — não se sabe ao certo quantos foram os escritores da Bíblia. As escrituras estão divididas em duas grandes compilações: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo Testamento, também conhecido como Bíblia Hebraica, o cânone principal do judaísmo, trata da relação entre Deus e o povo israelita, desde a criação do mundo até a revelação de Deus e de suas leis para os homens. Já o Novo Testamento, reconhecido apenas pelos cristãos, é a parte da Bíblia composta de quatro evangelhos sinóticos (semelhantes entre si) que narram a vida de Cristo além dos atos dos apóstolos e finalmente do livro do Apocalipse.

No que consistiu a Paixão de Cristo, milagre supremo do cristianismo?

Para os cristãos, a Paixão de Cristo é a confirmação máxima da divindade de Jesus. Contada de diferentes formas, sua história começa em Jerusalém, três dias antes da Páscoa Judaica, quando Jesus reúne seus doze apóstolos para cear e anuncia que um deles irá traí-lo. Horas depois, o apóstolo Judas Iscariotes traz consigo soldados que prendem o profeta e o levam ao templo judaico, onde é condenado pelo sumo sacerdote Caifás por blasfêmia — Jesus não poderia ter se afirmado o filho de Deus. Jesus é então castigado fisicamente de diversas formas, e colocado em uma cruz para morrer. Três dias mais tarde, apareceu a Maria Madalena em Jerusalém, e depois aos onze apóstolos na Galileia (Judas havia se enforcado de arrependimento). A ressurreição confirmou a eles que Jesus era mesmo o filho de Deus. Ao contrário do que pode se pensar, Cristo é um título dado a Jesus, que quer dizer "o ungido", ou mesmo, "o messias" — não é seu sobrenome.

Quem foram e o que fizeram os 12 apóstolos originais?

Os apóstolos de Jesus seriam os 12 homens escolhidos pelo profeta entre seus discípulos e seguidores para espalhar seus ensinamentos e pregar o Evangelho e a ressurreição do Cristo. Os 12 participaram da Última Ceia.

Pedro – Líder dos apóstolos recebeu de Jesus a missão de continuar sua obra depois que ele morresse. É o responsável pela fundação da Igreja de Roma, a Santa Sé, e considerado o primeiro papa da história. Também guarda as chaves do céu. Seu nome original era Simão.

André – Irmão de Pedro foi o primeiro a ser convocado por Jesus. Pregou pelas regiões que hoje correspondem à Turquia, à Grécia e à Rússia — é o patrono da igreja ortodoxa grega.

Tiago, o Maior – Um dos filhos de Zebedeu era pescador, a exemplo de André e Pedro, e foi um dos primeiros a abandonar tudo para seguir Jesus. Permaneceu em Jerusalém, junto a Pedro, e depois foi até a Espanha.

João Evangelista – Irmão de Tiago, o Maior, João era o mais novo dos apóstolos quando Jesus viveu. Escreveu o quarto e último dos evangelhos do novo testamento, além do livro do Apocalipse. Foi Único a morrer de causas naturais — todos os outros foram executados.

Tiago, o Menor – Filho de Alfeu é identificado às vezes como o irmão de Jesus, às vezes como primo. Foi o principal líder da comunidade cristã de Jerusalém, e escreveu uma das cartas do Novo Testamento. Sua vida confunde-se com a dos outros apóstolos na Bíblia.

Mateus – Autor do primeiro evangelho na sequência do Novo Testamento, ainda que se considere que o de Marcos tenha sido escrito anteriormente. Antes de sua conversão ao cristianismo, Mateus era coletor de impostos e se chamava Levi. Abandonou os negócios e distribuiu seus bens entre os pobres para seguir Jesus.

Filipe – É dos apóstolos sobre quem se tem menos informações. Na última ceia, segundo o Evangelho de João, desafiou Cristo a mostrar Deus.

Tomé – Por não acreditar no que lhes diziam os outros apóstolos, que Jesus tinha ressuscitado, ficou conhecido como aquele que precisa "ver para crer". Após testemunhar o Cristo ressurgido, pregou na Pérsia e na Índia, onde ergueu um templo com as mãos.

Bartolomeu – Chamado de Natanael nos evangelhos, era descrito por Jesus como alguém leal, em quem se podia confiar. Pregou na Índia e na Armênia.

Judas Tadeu – Nascido em Nazaré, a exemplo de Jesus, era irmão de Tiago, o Menor. Um dos santos mais populares da Igreja Católica é o padroeiro das causas perdidas e desesperadas.

Simão – Também conhecido por Simão, o zelote, integrou um grupo radical — os zelotes — que pregavam a libertação de Israel do domínio romano. Acompanhou Judas Tadeu em pregações pela Pérsia

Judas Iscariotes – O apóstolo que traiu Jesus ao entregá-lo para as autoridades judaicas e romanas em troca de 30 moedas de prata, segundo o Evangelho de Mateus. Sob o peso do remorso, devolveu o dinheiro e enforcou-se numa árvore.

Quem foi Paulo de Tarso e qual sua importância para o cristianismo?

Paulo de Tarso, que antes de sua conversão se chamava Saulo, é o maior difusor do cristianismo, e lançou as bases teóricas que transformariam a incipiente seita dos seguidores de Jesus na religião que lançou as bases da civilização ocidental. Também é considerado um apóstolo, ainda que não estivesse presente à Santa Ceia — não conheceu pessoalmente o Cristo, que lhe apareceu depois de ressuscitado. Suas cartas, em que catequizam judeus e gentios (não judeus), ocupam boa parte do Novo Testamento.

O que é a Santíssima Trindade?

A Santíssima Trindade é um dos principais dogmas da religião cristã. Seu conceito estabelece que Deus, apesar de ser um só, se manifesta em três diferentes figuras: o Pai, criador e fonte de tudo; o Filho, que seria a palavra de Deus, personificada em Jesus Cristo; e o Espírito Santo, a força que advoga e intercede no mundo humano. As três pessoas da Santíssima Trindade são eternas e coexistem simultaneamente. O termo "Trindade" jamais é mencionado na Bíblia.

Quem são os anjos?

Anjos são seres sobrenaturais que agem na terra em nome de Deus. Frequentemente representados com formas humanas trabalham como mensageiros de Deus na maioria de suas aparições bíblicas, quando Este faz alguma revelação aos homens. Podem ser protetores também, como o anjo enviado para guiar o povo hebreu no caminho do Egito. Apesar do papel crucial de alguns deles no Novo Testamento — o anjo Gabriel é quem anuncia a Maria que ela dará a luz ao filho de Deus —, não são seres exclusivos do cristianismo. Pelo contrário, foram herdados do judaísmo, além de serem figuras importantes no islamismo. O ramo da teologia que estuda os anjos é denominado angelologia.

Quais são os principais sacramentos da Igreja Católica?

A Igreja católica tem sete sacramentos — rituais que alimentam sua fé e através dos quais é concedida a graça divina aos fiéis:

Batismo – é o primeiro ritual de purificação do catolicismo. Nos dias de hoje, costuma ser realizado com a imersão de parte da cabeça (ou às vezes até do corpo inteiro) em água benta, com posterior benção de um padre. Um católico só pode ser considerado católico após ser batizado.

Crisma ou Confirmação – sacramento em que um católico é ungido com um óleo abençoado e confirma sua devoção a Cristo e sua vontade em seguir sua religião. No catolicismo, é administrado quando o fiel já tem idade para discernir racionalmente suas escolhas o que na maioria dos lugares costuma ser depois dos sete anos.

Confissão ou Penitência – sendo o pecado inerente à condição humana para a doutrina católica (os homens estariam condenados pelo pecado original de Adão), o católico precisa expiar sua culpa para ser merecedor da graça divina. O primeiro passo nesta direção é confessar individualmente seus pecados a um padre. O poder de absolvição, no entanto, não pertence ao padre, somente a Deus. A confissão é importante, pois somente um homem livre de culpa pode receber o corpo e o sangue de Cristo na eucaristia.

Eucaristia ou Comunhão – rito em que os cristãos recebem o corpo e o sangue de Cristo, simbolizados na hóstia embebida em vinho que é dada ao fiel pelo padre, ou um ministro. O sacramento é uma reconstituição da Última Ceia de Jesus com seus apóstolos, quando, pressentindo que morreria, abençoou e distribui a eles pão e vinho, confiando-lhes a missão de repetir o gesto para com todos os cristãos para remissão de seus pecados. Sacramento realizado durante a missa costuma-se exigir que o católico tenha se confessado antes de receber a eucaristia.

Ordem Sacerdotal – sacramento que confere o poder de exercer funções e ministérios eclesiásticos — transforma simples católicos em sacerdotes. Chama-se Ordem por colocar os que o recebem em uma ordem diferente da dos fiéis. Pela autoridade recebida os sacerdotes passam a ter o privilégio de ministrar os outros sacramentos.

Matrimônio – para o cristianismo, o matrimônio é uma união sagrada e indissolúvel entre um homem e uma mulher, que lhes concede a graça de se multiplicarem e constituírem família. Teologicamente, o matrimônio é o sacramento que dá aos homens o direito de participar ativamente da criação divina — só depois dele é que pode haver procriação.

Unção dos Enfermos – antigamente conhecida por Extrema Unção, é normalmente administrada a um católico quando este está a ponto de morrer. Com um óleo específico para este fim, o padre abençoa aqueles que estejam cronicamente doentes ou em idade muito avançada. Trata-se de um sacramento que renova a fé do cristão doente, e o leva a uma cura espiritual de seus males.

Como funciona a hierarquia da Igreja Católica no Vaticano e no mundo?

O clero católico é exclusivamente masculino e celibatário, mas não prevê nenhuma distinção por local de origem entre seus membros — sacerdotes nascidos em qualquer país podem ascender até o papado.

Papa – O chefe absoluto de toda a Igreja e do Estado da Cidade do Vaticano, acumula papéis de líder religioso, político e espiritual. Todos os papas são sucessores do apóstolo Pedro, o primeiro papa da história. Para o catolicismo, sua autoridade descende diretamente de Jesus Cristo, já que este confiou a Pedro a missão de fundar a Igreja Cristã.

Cardeais – São os mais altos dignitários da Igreja Católica depois do papa. Espalhados pelo mundo são também os responsáveis por eleger um novo papa quando seu antecessor morre, por meio de um conclave (assembléia fechada). O papa, por sua vez, é quem nomeia cada um dos cardeais.

Bispos – Segundo a doutrina cristã, os bispos são os sucessores diretos dos apóstolos em sua missão de espalhar a mensagem de Cristo. Cada bispo é responsável por administrar uma diocese, ou seja, um conjunto de paróquias de determinado local.

Padres – O nome que se dá a todo católico batizado que recebeu ordenação sacerdotal. Um padre administra uma paróquia e responde pelos serviços de sua igreja. Os padres católicos estão divididos entre os seculares, que se fixam a uma diocese, e os missionários, que viajam para pregar a liturgia cristã.

Quais são os principais países católicos?

Ainda que o Brasil seja o país com a maior população católica do mundo, a religião costuma ser primeiramente associada com os países de origem latina da Europa — mais notadamente a Itália, que sedia o comando da Igreja, a Cidade do Vaticano, dentro da capital Roma. No entanto, o conjunto das Américas responde hoje por mais de 50% dos católicos no mundo.

Argentina: 88% de católicos, ou 35 milhões
Brasil: 74% de católicos, ou 137 milhões
Colômbia: 82% de católicos, ou 35 milhões
Equador: 91% de católicos, ou 12 milhões
Espanha: 81% de católicos, ou 32,5 milhões
Filipinas: 81% de católicos, ou 71 milhões
França: 80% de católicos, ou 48,5 milhões
Irlanda: 88% de católicos, ou 3,5 milhões
Itália: 87% de católicos, ou 50,5 milhões
México: 88% de católicos, ou 93,5 milhões
Polônia: 80% de católicos, ou 31 milhões
Portugal: 94% de católicos, ou 10 milhões

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Bibliografia: Catechism of the Catholic Church, (tradução inglesa, Libreria Editrice Vaticana, 2000). – Bíblia Sagrada, Editora Ave-Maria. – L’Osservatore Romano. – Arquivo Starnews 2001.